quarta-feira, 15 de outubro de 2014 | By: Albicastelhano

EVIDÊNCIAS DE ÉPOCA MODERNA NO CASTELO DE CASTELO BRANCO |||

3. ESPÓLIO

Apesar da presença de espólio de outras épocas, em
particular do período medieval, foram recuperados essencialmente
materiais de cronologia moderna (séculos
XV-XVIII).
Visto que durante os trabalhos arqueológicos de
1979/84 não foi feito qualquer registo estratigráico dos
materiais encontrados e que os recuperados em 2000
resultam de uma recolha após o desaterro do local, foi
necessário recorrer a paralelos formais para apurar as
suas cronologias. Não se pretende contudo fazer aqui
referência exaustiva e pormenorizada daqueles, mas
apenas dar a conhecer as formas e objectos mais relevantes
identiicados dentro da cronologia em análise
Deve ainda ser referido que na intervenção de 1979/84


foram crivadas as terras retiradas, embora não tenham
sido recolhidos quaisquer fragmentos de parede
em cerâmica fosca que não apresentassem decorações.
Uma vez que grande parte das cerâmicas vidradas
e esmaltadas foram então consideradas como
produções “recentes” e “sem interesse arqueológico”,
recuperou-se um conjunto muito diminuto deste tipo
de materiais.


3.1 Cerâmica
Em relação à cerâmica fosca, no que diz respeito à
loiça de cozinha, as panelas são a forma mais frequente.
Visto que não subsiste nenhum exemplar com
o peril completo, apenas é possível diferenciar tipologias
através dos bordos: sub-triangulares, sub-rectangulares
e semi-circulares. Com excepção do primeiro
caso, que será um pouco mais antigo, estes bordos são
datáveis dos séculos XV-XVI.
Em menor quantidade, dentro daquela cronologia,
foram recolhidos tachos e frigideiras, que podem apresentar
decoração incisa, no exterior, abaixo do bordo.
Foi recuperada uma grande diversidade de testos e tampas,
mostrando alguns deles, queimaduras sobre o bordo,
o que evidencia a sua utilização ao lume sobre tachos
ou panelas. Outros terão sido usados eventualmente
em potes ou qualquer outro contentor que fosse necessário
tapar para preservar o seu conteúdo. São comuns
os testos com bordo espessado exteriormente
e com pitorra, normalmente associados a contextos
quinhentistas, embora a sua utilização se mantenha ao
longo de várias centúrias. Surgem igualmente outras
formas de tampa que deverão ser mais tardias.
Em relação às loiças de armazenamento e/ou transporte,
ao contrário do que sucedia na época medieval, não surgem
quaisquer talhas. Tal facto pode icar a dever-se à
construção do Celeiro da Ordem de Cristo, em meados
do século XV, que terá passado a ser o local de armazenamento
por excelência, sendo por isso os potes, os contentores
de sólidos mais usuais na alcáçova albicastrense.
Como contentores de líquidos, são tão frequentes as
bilhas como os cântaros, que assumem formas comuns
noutros locais em níveis dos séculos XV-XVI.
Na loiça de mesa veriica-se, ao longo do século XV,
uma tendência para a individualização do uso das
peças como medida proilática, evidenciada acima de
tudo pela diminuição do diâmetro das mesmas. Esta
situação é visível tanto nas taças como nos pratos,
normalmente brunidos no interior. Outra peça que se
vulgariza nesta época são os púcaros de beber, em
cerâmica ina, que nos séculos XVI-XVII se apresentam,
na grande maioria dos casos, decorados em relevo.
Estas peças em cerâmica fosca foram produzidas com
pastas de barros vermelhos, que após cozeduras maioritariamente
oxidantes adquiriram tons entre o laranja e o
castanho, passando pelo vermelho. São pastas bastante
homogéneas, com elementos não plásticos de grão ino
a médio, normalmente biotite, moscovite, feldspato,
quartzo hialino e leitoso, sendo menos frequentes a hematite,
a calcite, o calcário, nódulos de barro e outros
tipos de quartzo.
Embora muito diminuto, dentro das loiças de mesa destaca-
se o conjunto de peças esmaltadas a branco estanhífero,
por vezes decoradas a azul de cobalto ou combinações
desse com preto ou roxo de manganês. Algumas
dessas peças são relexo do comércio transfronteiriço,
como é o caso dos pratos com bandas concêntricas
a azul ou intercaladas a roxo, típicos das produções sevilhanas
e valencianas dos séculos XV e XVI. Do mesmo
período e proveniência poderão ser algumas das peças
esmaltadas a branco, sem qualquer decoração.
No inal do século XVI, mas principalmente durante o
século XVII, surgem as peças de faiança portuguesa,
onde são frequentes elementos decorativos como as
espirais, os aranhões e as contas, combinando ou não
os óxidos já referidos.
Dentro do conjunto da cerâmica vidrada, praticamente
inexistente, destaca-se um bordo de alguidar vidrado
a verde plumbífero. É uma forma comum desde os
séculos XV-XVI praticamente até à actualidade.
Constituído apenas por meros fragmentos, os vestígios
de cerâmica de revestimento incluem um azulejo
tipo hispano-árabe, de provável produção sevilhana,
que poderá datar do século XVI. Mais tardios serão
os vários restos de pelo menos um painel de azulejos
esmaltados a branco e decorados a azul de cobalto e
amarelo de antimónio, que corresponde ao padrão
P-452, datável do século XVII (Simões, 1971, p. 83).
Ao contrário da cerâmica fosca, esta cerâmica vidrada
e/ou esmaltada, incluindo a de revestimento, mostra
pastas normalmente de tons entre o bege e o rosa,
resultado da mistura de barro branco com pequenas
percentagens de barro vermelho, uma vez que o óxido
de ferro presente neste último dá maior resistência às
peças durante a sua cozedura. São pastas muito homogéneas
e depuradas, com elementos não plásticos
de grão ino a muito ino, nalguns casos quase imperceptíveis,
nomeadamente nas peças que se considera
serem importadas.