sexta-feira, 24 de outubro de 2014 | By: Albicastelhano

EVIDÊNCIAS DE ÉPOCA MODERNA NO CASTELO DE CASTELO BRANCO V

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De pequena comunidade raiana, Castelo Branco, graças
à Ordem do Templo, tornou-se numa das principais
praças da província da Beira, sendo valorizada tanto
pela Ordem de Cristo, que sucedeu àquela, como por



reis e bispos. Ao longo do século XVI cresceu para lá
das suas muralhas, onde criou diversos arrabaldes que
deiniram o perímetro da vila até à entrada no século XIX.
A origem da comunidade está precisamente na fortaleza
que domina a actual cidade. Sobre a sua origem
e evolução existem poucos dados, visto que a estrutura
foi diversas vezes reestruturada, não só para se
adaptar a novas realidades como para repor o que foi
destruído por exércitos saqueantes.
O edifício mais antigo neste espaço, embora muito
adulterado, é a Igreja de Santa Maria do Castelo. Foi
no adro desta, que nos inícios dos anos 80 do século XX
decorreram importantes trabalhos arqueológicos. No
entanto, trinta anos volvidos desconhecem-se que novos
dados foram descobertos ao longo da intervenção.
As informações sobre a mesma são vagas e imprecisas,
não se sabendo exactamente qual a estratigraia
e as estruturas identiicadas. Os relatórios são generalistas,
pouco rigorosos e não especiicam que materiais
surgiram e onde, o que impossibilita parcialmente
uma datação mais precisa dos mesmos e a análise da
evolução deste espaço. Apesar dessa falha técnica,
compreensível face às limitações existentes na época
sobre esta temática, o espólio recolhido dá-nos uma
visão geral de como seria o quotidiano na alcáçova albicastrense
ao longo de várias centúrias, e em particular,
nos períodos medieval e moderno.
A maioria das peças cerâmicas tem semelhança com
outras encontradas na região, nomeadamente em Castelo
Novo (Silvério e Barros, 2005) e Penamacor (Silvério,
Barros e Teixeira, 2004; Boavida, 2006). A presença
constante de elementos constituintes do granito nos
elementos não plásticos poderá também indicar esse
fabrico regional ou mesmo local, visto que na época
moderna, um dos arrabaldes que se desenvolveu foi
precisamente o dos oleiros. Trata-se de uma mera hipótese,
uma vez que não se encontram publicados quaisquer
trabalhos sobre materiais cerâmicos modernos
provenientes de outros arqueosítios albicastrenses.
A identiicação de paralelos formais a nível regional
pode ser também um indicador comercial nesse âmbito,
tal como sucede com as cerâmicas importadas e
os numismas de origem castelhana. É facto que foram
identiicados paralelos formais noutros locais do país,
nomeadamente em cidades onde a Arqueologia Urbana
é abordada há várias décadas, como Almada, Cascais,
Lisboa, Palmela, Santarém, Setúbal e Silves, mas aí a
variedade de elementos não plásticos nas pastas é mais
diversiicada.
Por outro lado, em relação às outras tipologias materiais
analisadas existem poucos estudos especíicos em
Portugal, uma vez que normalmente são preteridas em
relação à cerâmica. A presença destas é igualmente
um relexo das várias funcionalidades que a alcáçova
albicastrense albergou: militar, habitacional, administrativa
e religiosa.

AGRADECIMENTOS

À Professora Doutora Rosa Varela Gomes, orientadora
da tese de Mestrado em Arqueologia apresentada à
FCSH-UNL, aqui parcialmente publicada.
À Dr.ª Aida Rechena e à Dr.ª Solange Almeida, directoras
dos dois museus onde se encontra em depósito o espólio
analisado, Museu de Francisco Tavares Proença Júnior,
em Castelo Branco, e Museu do Canteiro, em Alcains.
Aos responsáveis pelos trabalhos arqueológicos que
decorreram no castelo de Castelo Branco: Dr. João
Ribeiro (1979/1984), Dr.ª Sílvia Moreira e Dr. Pedro
Salvado (2000).
Aos familiares, amigos, colegas e professores que me
apoiaram ao longo de todo o processo.



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