quinta-feira, 23 de outubro de 2014 | By: Albicastelhano

EVIDÊNCIAS DE ÉPOCA MODERNA NO CASTELO DE CASTELO BRANCO |V

3.2 Artefactos metálicos

Trata-se do conjunto de materiais mais interessante
recolhido na alcáçova albicastrense, não só pela sua
diversidade, mas também pelo estado de conservação
em que se encontra, bastante valorizado após o


restauro dos exemplares mais relevantes.
Foram identiicados diversos objectos de uso doméstico,
nalguns casos formas ainda hoje utilizadas em contextos
rurais, apesar de surgirem pelo menos desde
os séculos XVII-XVIII, como sucede com uma pega de
caldeiro. O mesmo se poderá dizer de uma pintadeira,
utensílio que segundo Abel Viana tem grande previvência
desde a Idade Média até à actualidade (1961/62, p.
162-163) e que seria usado para marcar bolos que iam
a cozer em fornos comunitários.
O conjunto mais diversiicado é o dos objectos de
uso pessoal, que inclui os acessórios de vestuário e a
joalharia. Além de alinetes de cabelo ou de toucado,
foram também recuperadas pontas de atilho, sendo
possível aferir cronologias de todos eles, recorrendo
a documentação iconográica dos séculos XV-XVII,
em particular através dos retratos elaborados pelas
principais escolas de pintura europeias. Este tipo de
datação é extensível também aos botões e às ivelas
(Boavida, 2009, p. 73-74).
No conjunto da joalharia, além de um anel e um brinco,
foram recolhidos objectos de carácter religioso,
nomeadamente medalhas e cruzes. Estes objectos
de uso pessoal, em particular os de cariz religioso,
poderão estar relacionados com a utilização do adro
da Igreja de Santa Maria do Castelo como necrópole.
Foram recolhidos vários tipos de pregos. Uma vez
que os enterramentos identiicados foram feitos em
sepulturas antropomóricas escavadas na rocha, a utilização
de esquifes terá sido pouco usual. Alguns dos
pregos poderão ter sido usados para tal im, mas o
mais usual seria a deposição dos corpos embrulhados
em sudários de linho, seguros por alinetes, dos quais
foram recuperadas várias centenas. A maioria dos pregos
terá integrado diversos elementos de mobiliário,
assim como madeiramentos de eventuais construções
que existissem na alcáçova (Boavida, 2009, p. 78-79).

3.3 Artefactos em vidro, osso, azeviche e cabedal
Igualmente em eventual associação com os enterramentos
foram recuperados vários tipos de contas, em vidro,
osso e azeviche, datáveis dos séculos XVI-XVIII. Estas podem
ter integrado terços e/ou rosários, nomeadamente
as de azeviche, enquanto as de vidro e osso poderão ter
sido de igual modo usadas em colares ou pulseiras.
Em vidro negro foram identiicados anéis do tipo veneziano,
idênticos a outros associados a enterramentos
no convento de São Francisco de Santarém (Ramalho,
2002, p. 203) e no Mosteiro de São Vicente de Fora, em
Lisboa (Ferreira, 1983, p. 10 e 35).
Também em vidro, recolheram-se algumas peças de uso à
mesa, nomeadamente contentores de líquidos, neste caso
um cálice e uma garrafa, que se enquadram nas produções
dos séculos XVI-XVII, embora a garrafa possa ser mais
tardia. (Custódio, 2002, p. 328, n.º 109; p. 336-337).
Possivelmente também relacionados com os enterramentos,
foram estudados alguns restos de cabedal, onde
se destaca um sapato praticamente completo. É um tipo
de material pouco estudado em Portugal, mas que já foi
identiicado em contextos lisboetas do século XVII (Nozes,
Silva e Miranda, 2007, p. 23; Cardoso, 2008, p. 280-281).

3.4 Numismas

Dos 193 numismas recolhidos, 142 foram cunhados
durante a 2.ª dinastia. Além da diversidade de tipos
emitidos no reinado de D. João I (1383-1433), destaca-
-se ½ vintém de prata de D. Manuel I (1495-1521) e
o conjunto de ceitis (109), na maioria de D. Afonso V
(1438-1481) e D. João III (1521-1557).
Foram recolhidos igualmente dois exemplares de blanca
del rombo de Henrique II de Castela (1445-1474) e um jeton
que mostra caligraia árabe, datado possivelmente
dos séculos XVII-XIX (Antunes, 2011, p. 730-732).
De acordo com os relatórios, parte destes numismas,
foi recolhida em associação com os enterramentos,
mas não existe qualquer informação sobre quais. A
oxidação de alguns deles possibilitou a conservação de
vestígios de linho que seriam das roupas dos inumados
ou dos seus sudários.

3.5 Estelas funerárias

Na alcáçova albicastrense foi recuperado também um
conjunto de estelas funerárias, desconhecendo-se no
entanto qual o seu contexto, visto que surgiram na sua
maioria nos níveis remexidos do Q.118. As estelas discoidais,
talhadas em granito poriróide, foram consideradas
medievais, uma vez que mostram quase sempre
as faces decoradas com cruz pátea, normalmente associada
à Ordem do Templo, extinta em 1314. Além disso,
todas elas apresentam um talhe muito rudimentar.
Foi igualmente encontrada uma estela rectangular,
produzida com granito de grão mais ino, decorada
nas duas faces por motivos mais elaborados, o que
indica que o canteiro teria bastantes conhecimentos
de geometria. Esta estela poderá ser mais tardia que
as restantes, possivelmente dos séculos XV-XVI.