quarta-feira, 29 de outubro de 2014 | By: Albicastelhano

Diabo



Ontem tive a triste notícia que despareceu este grande Homem, de seu nome Joaquim Casimiro da Silva mas conhecido na cidade como o Diabo.
Muitas vezes nos encontramos na Tasca do Zé.
Muitas vezes ouvia as suas mirabolantes histórias de vida que me fazia rir e perceber o quanto já tinha passado, do seu filho em Barcelona do amor pela sua arte.
Muitas vezes ouvi da sua boca mais ou menos por estas palavras : "Somos nós que começamos o vício somos nós que acabamos com ele"
Que descanse em Paz este Diabo de Bom Coração


Fonte da foto:https://www.facebook.com/576381582391799/photos/a.589675917729032.1073741825.576381582391799/933018960061391/?type=1&theater
domingo, 26 de outubro de 2014 | By: Albicastelhano

Castelo de Castelo Branco (1979–1984 e 2000): síntese dos trabalhos arqueológicos desenvolvidos e principais conclusões II

2. Arqueologia no Castelo de Castelo Branco2

Apesar de vários autores afirmarem que a fixação humana no local terá origem romana ou
mesmo anterior, são poucos os dados concretos que confirmem esse facto, embora ao longo do
século XX tenham sido recolhidos diversos materiais dispersos e descontextualizados, alguns deles
dentro daquelas cronologias, na área do monumento e em seu redor (Garcia, 1979, pp. 99–100;



Ponte, 1986, pp. 37–38; Simões, 1986, pp. 150–151; Leitão, 1994, p. 27). Esta situação altera‑se
a
partir do final da década de 70.
Em Fevereiro de 1979, um violento temporal provocou um aluimento de terras na estrada turística
do castelo, em pleno adro da Igreja de Santa Maria do Castelo, dificultando a passagem dos carros
e colocando à vista diversos materiais arqueológicos. Para evitar o saque dos materiais entretanto
expostos (Martins, 1979b), a edilidade, na presença de um funcionário do Museu Francisco Tavares
Proença Júnior, levou a cabo uma limpeza superficial da área, aterrando‑a
depois, até estarem reunidas
as condições para eventuais trabalhos arqueológicos3. Foram recolhidas então três estelas
funerárias e cerca de três dezenas de numismas4.
Entretanto, o professor João Henriques Ribeiro, à época director da Casa da Cultura, entrou
com um pedido de autorização para levar a cabo uma intervenção arqueológica no local, que após
ultrapassadas algumas questões logísticas, se iniciou em Setembro daquele ano, concentrando‑se
na área do aluimento (Q. 118). Além desta sondagem de diagnóstico, esta primeira campanha serviu
igualmente de preparação para as seguintes. O adro da Igreja de Santa Maria foi dividido em três
sectores (A, B e C), onde os trabalhos se foram desenvolvendo progressivamente.
No sector A, que compreendia a área em frente à fachada principal da igreja, ao redor do campanário
e ao longo daquela foram colocados à vista diversos vestígios de uma calçada. Após a sua
remoção identificaram‑se
vários restos de muros que poderão ter sido das fundações de anteriores
edifícios aqui existentes. Encostado a um deles encontrava‑se
um elemento arquitectónico decorado,
de grande dimensão, que poderá ter integrado alguma das estruturas anteriores, tendo sido
depois reutilizado noutro local. Por seu lado, o campanário, construído em meados do século XIX,
foi erguido sobre enchimento pétreo não argamassado.
A área a sudoeste da igreja, ao longo da sua fachada lateral, foi designada como sector B.
O espaço encontra‑se
ocupado por sepulturas antropomórficas escavadas na rocha, afectadas na
sua maioria pelas raízes das árvores entretanto plantadas no local. A partir da porta lateral da igreja
estava um troço de calçada que se cruzava com um outro que corre ao longo da necrópole, paralelo
ao edifício, desde a actual sacristia até à fachada principal. A sul desta calçada fica a estrada de circulação
na zona do castelo, onde se verificou o aluimento.
Por fim, todo o espaço a sul daqueles correspondia ao sector C, ajardinado, no qual foram
abertas três valas de sondagens para avaliar o seu potencial arqueológico. Tendo‑se
considerado que
aquele era diminuto, apesar de alguns vestígios de negativos de muros argamassados, foi então
excluído da área em análise no decorrer da campanha de 1980. Numa dessas sondagens, no corte,
foram identificados cinco estratos.
Do ponto de vista estratigráfico, nos outros sectores encontraram‑se
quatro realidades distintas.
Sobre a calçada da estrada existente no local do aluimento, foi colocada à vista uma camada de
terra castanha, remexida, com cerca de 10 cm de espessura, idêntica à existente no jardim em redor.
Na camada seguinte, arenosa, começaram a surgir os primeiros restos osteológicos desconexos e
muito fragmentados, talvez em consequência da terraplanagem feita no local para a abertura da
estrada. Existiam também algumas bolsas, de pequena dimensão, de areia mais fina. Até ao afloramento,
a 1,20 m de profundidade em praticamente toda a estação, foram contabilizadas outras
duas camadas, ao que tudo indica invioladas, que apresentavam diversos vestígios osteológicos
associados a alfinetes, pregos e cerâmicas.
Esta situação era frequente em quase todo o sector B, excepto ao longo da fachada da igreja e
no local do aluimento. No primeiro caso, após a camada superficial, existia uma outra, de terra
batida, imediatamente sobre o afloramento, selando as sepulturas aí escavadas. Nela foram identificadas
várias bolsas de terra mais escura, que foram interpretadas como negativos de árvores entretanto
retiradas.
No local do aluimento, o afloramento encontra‑se
cortado em ângulo recto e escavado vários
metros, para a instalação ou construção de algo de que não foi possível identificar função. A potência
estratigráfica encontrada e da qual não existem praticamente referências, rondou os 10 m de
profundidade. Foi neste local que se recolheram a maioria dos materiais arqueológicos em análise.
O sector A encontrava‑se
muito remexido do ponto de vista estratigráfico.
Após um parecer emitido por um responsável da tutela que se deslocou ao local, a área foi
aterrada e os trabalhos suspensos por falta de meios técnicos e financeiros5.
Os materiais recolhidos integraram as colecções do Museu Francisco Tavares Proença Júnior,
tendo as peças mais frágeis sido alvo de restauro no Instituto José de Figueiredo e no Laboratório
do Museu Monográfico de Conímbriga. Nos anos subsequentes foram dados à estampa alguns
artigos sobre os trabalhos desenvolvidos, onde se dava conta dos resultados preliminares (Ribeiro,
1984, 1985, 1987), de certa forma compilados em publicação recente sobre o Jardim do Paço Episcopal
(Ribeiro & Azevedo, 2001, pp. 15–47)6.
Em 2000, no âmbito da construção de um depósito de água, por parte da autarquia, na encosta
oeste da colina do castelo, no perímetro daquele, foram identificados diversos vestígios arqueológicos.
A intervenção de emergência, que teve lugar após o desaterro do local, limitou‑se
ao espaço de
afectação da obra: 48 m2.
Foram colocadas à vista as fundações e o derrube de um muro que poderá corresponder à
muralha do castelo ou à barbacã que a precedia. Aquele era constituído por duas fiadas de pedras de
média dimensão com o interior preenchido por outras menores. No perfil foram registadas cinco
camadas estratigráficas, criadas eventualmente por séculos de entulhamentos nesta vertente.
O espólio recuperado é relativamente escasso, uma vez que é resultante da escolha das terras
retiradas anteriormente e da limpeza da camada de assentamento do depósito de água. O mesmo
foi interpretado, à época, como consequência de um deslizamento da área da necrópole (Salvado &
Moreira, 2007, p. 213), não muito longe desta vertente da encosta, embora aquele apenas tenha sido
alvo de análise preliminar.
Ao longo da intervenção, vários foram os periódicos locais que noticiaram a situação7, mas foi
só em 2007 que foram publicados os resultados preliminares sobre o assunto (Salvado e Moreira,
2007).
sexta-feira, 24 de outubro de 2014 | By: Albicastelhano

EVIDÊNCIAS DE ÉPOCA MODERNA NO CASTELO DE CASTELO BRANCO V

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De pequena comunidade raiana, Castelo Branco, graças
à Ordem do Templo, tornou-se numa das principais
praças da província da Beira, sendo valorizada tanto
pela Ordem de Cristo, que sucedeu àquela, como por



reis e bispos. Ao longo do século XVI cresceu para lá
das suas muralhas, onde criou diversos arrabaldes que
deiniram o perímetro da vila até à entrada no século XIX.
A origem da comunidade está precisamente na fortaleza
que domina a actual cidade. Sobre a sua origem
e evolução existem poucos dados, visto que a estrutura
foi diversas vezes reestruturada, não só para se
adaptar a novas realidades como para repor o que foi
destruído por exércitos saqueantes.
O edifício mais antigo neste espaço, embora muito
adulterado, é a Igreja de Santa Maria do Castelo. Foi
no adro desta, que nos inícios dos anos 80 do século XX
decorreram importantes trabalhos arqueológicos. No
entanto, trinta anos volvidos desconhecem-se que novos
dados foram descobertos ao longo da intervenção.
As informações sobre a mesma são vagas e imprecisas,
não se sabendo exactamente qual a estratigraia
e as estruturas identiicadas. Os relatórios são generalistas,
pouco rigorosos e não especiicam que materiais
surgiram e onde, o que impossibilita parcialmente
uma datação mais precisa dos mesmos e a análise da
evolução deste espaço. Apesar dessa falha técnica,
compreensível face às limitações existentes na época
sobre esta temática, o espólio recolhido dá-nos uma
visão geral de como seria o quotidiano na alcáçova albicastrense
ao longo de várias centúrias, e em particular,
nos períodos medieval e moderno.
A maioria das peças cerâmicas tem semelhança com
outras encontradas na região, nomeadamente em Castelo
Novo (Silvério e Barros, 2005) e Penamacor (Silvério,
Barros e Teixeira, 2004; Boavida, 2006). A presença
constante de elementos constituintes do granito nos
elementos não plásticos poderá também indicar esse
fabrico regional ou mesmo local, visto que na época
moderna, um dos arrabaldes que se desenvolveu foi
precisamente o dos oleiros. Trata-se de uma mera hipótese,
uma vez que não se encontram publicados quaisquer
trabalhos sobre materiais cerâmicos modernos
provenientes de outros arqueosítios albicastrenses.
A identiicação de paralelos formais a nível regional
pode ser também um indicador comercial nesse âmbito,
tal como sucede com as cerâmicas importadas e
os numismas de origem castelhana. É facto que foram
identiicados paralelos formais noutros locais do país,
nomeadamente em cidades onde a Arqueologia Urbana
é abordada há várias décadas, como Almada, Cascais,
Lisboa, Palmela, Santarém, Setúbal e Silves, mas aí a
variedade de elementos não plásticos nas pastas é mais
diversiicada.
Por outro lado, em relação às outras tipologias materiais
analisadas existem poucos estudos especíicos em
Portugal, uma vez que normalmente são preteridas em
relação à cerâmica. A presença destas é igualmente
um relexo das várias funcionalidades que a alcáçova
albicastrense albergou: militar, habitacional, administrativa
e religiosa.

AGRADECIMENTOS

À Professora Doutora Rosa Varela Gomes, orientadora
da tese de Mestrado em Arqueologia apresentada à
FCSH-UNL, aqui parcialmente publicada.
À Dr.ª Aida Rechena e à Dr.ª Solange Almeida, directoras
dos dois museus onde se encontra em depósito o espólio
analisado, Museu de Francisco Tavares Proença Júnior,
em Castelo Branco, e Museu do Canteiro, em Alcains.
Aos responsáveis pelos trabalhos arqueológicos que
decorreram no castelo de Castelo Branco: Dr. João
Ribeiro (1979/1984), Dr.ª Sílvia Moreira e Dr. Pedro
Salvado (2000).
Aos familiares, amigos, colegas e professores que me
apoiaram ao longo de todo o processo.



BIBLIOGRAFIA

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quinta-feira, 23 de outubro de 2014 | By: Albicastelhano

EVIDÊNCIAS DE ÉPOCA MODERNA NO CASTELO DE CASTELO BRANCO |V

3.2 Artefactos metálicos

Trata-se do conjunto de materiais mais interessante
recolhido na alcáçova albicastrense, não só pela sua
diversidade, mas também pelo estado de conservação
em que se encontra, bastante valorizado após o


restauro dos exemplares mais relevantes.
Foram identiicados diversos objectos de uso doméstico,
nalguns casos formas ainda hoje utilizadas em contextos
rurais, apesar de surgirem pelo menos desde
os séculos XVII-XVIII, como sucede com uma pega de
caldeiro. O mesmo se poderá dizer de uma pintadeira,
utensílio que segundo Abel Viana tem grande previvência
desde a Idade Média até à actualidade (1961/62, p.
162-163) e que seria usado para marcar bolos que iam
a cozer em fornos comunitários.
O conjunto mais diversiicado é o dos objectos de
uso pessoal, que inclui os acessórios de vestuário e a
joalharia. Além de alinetes de cabelo ou de toucado,
foram também recuperadas pontas de atilho, sendo
possível aferir cronologias de todos eles, recorrendo
a documentação iconográica dos séculos XV-XVII,
em particular através dos retratos elaborados pelas
principais escolas de pintura europeias. Este tipo de
datação é extensível também aos botões e às ivelas
(Boavida, 2009, p. 73-74).
No conjunto da joalharia, além de um anel e um brinco,
foram recolhidos objectos de carácter religioso,
nomeadamente medalhas e cruzes. Estes objectos
de uso pessoal, em particular os de cariz religioso,
poderão estar relacionados com a utilização do adro
da Igreja de Santa Maria do Castelo como necrópole.
Foram recolhidos vários tipos de pregos. Uma vez
que os enterramentos identiicados foram feitos em
sepulturas antropomóricas escavadas na rocha, a utilização
de esquifes terá sido pouco usual. Alguns dos
pregos poderão ter sido usados para tal im, mas o
mais usual seria a deposição dos corpos embrulhados
em sudários de linho, seguros por alinetes, dos quais
foram recuperadas várias centenas. A maioria dos pregos
terá integrado diversos elementos de mobiliário,
assim como madeiramentos de eventuais construções
que existissem na alcáçova (Boavida, 2009, p. 78-79).

3.3 Artefactos em vidro, osso, azeviche e cabedal
Igualmente em eventual associação com os enterramentos
foram recuperados vários tipos de contas, em vidro,
osso e azeviche, datáveis dos séculos XVI-XVIII. Estas podem
ter integrado terços e/ou rosários, nomeadamente
as de azeviche, enquanto as de vidro e osso poderão ter
sido de igual modo usadas em colares ou pulseiras.
Em vidro negro foram identiicados anéis do tipo veneziano,
idênticos a outros associados a enterramentos
no convento de São Francisco de Santarém (Ramalho,
2002, p. 203) e no Mosteiro de São Vicente de Fora, em
Lisboa (Ferreira, 1983, p. 10 e 35).
Também em vidro, recolheram-se algumas peças de uso à
mesa, nomeadamente contentores de líquidos, neste caso
um cálice e uma garrafa, que se enquadram nas produções
dos séculos XVI-XVII, embora a garrafa possa ser mais
tardia. (Custódio, 2002, p. 328, n.º 109; p. 336-337).
Possivelmente também relacionados com os enterramentos,
foram estudados alguns restos de cabedal, onde
se destaca um sapato praticamente completo. É um tipo
de material pouco estudado em Portugal, mas que já foi
identiicado em contextos lisboetas do século XVII (Nozes,
Silva e Miranda, 2007, p. 23; Cardoso, 2008, p. 280-281).

3.4 Numismas

Dos 193 numismas recolhidos, 142 foram cunhados
durante a 2.ª dinastia. Além da diversidade de tipos
emitidos no reinado de D. João I (1383-1433), destaca-
-se ½ vintém de prata de D. Manuel I (1495-1521) e
o conjunto de ceitis (109), na maioria de D. Afonso V
(1438-1481) e D. João III (1521-1557).
Foram recolhidos igualmente dois exemplares de blanca
del rombo de Henrique II de Castela (1445-1474) e um jeton
que mostra caligraia árabe, datado possivelmente
dos séculos XVII-XIX (Antunes, 2011, p. 730-732).
De acordo com os relatórios, parte destes numismas,
foi recolhida em associação com os enterramentos,
mas não existe qualquer informação sobre quais. A
oxidação de alguns deles possibilitou a conservação de
vestígios de linho que seriam das roupas dos inumados
ou dos seus sudários.

3.5 Estelas funerárias

Na alcáçova albicastrense foi recuperado também um
conjunto de estelas funerárias, desconhecendo-se no
entanto qual o seu contexto, visto que surgiram na sua
maioria nos níveis remexidos do Q.118. As estelas discoidais,
talhadas em granito poriróide, foram consideradas
medievais, uma vez que mostram quase sempre
as faces decoradas com cruz pátea, normalmente associada
à Ordem do Templo, extinta em 1314. Além disso,
todas elas apresentam um talhe muito rudimentar.
Foi igualmente encontrada uma estela rectangular,
produzida com granito de grão mais ino, decorada
nas duas faces por motivos mais elaborados, o que
indica que o canteiro teria bastantes conhecimentos
de geometria. Esta estela poderá ser mais tardia que
as restantes, possivelmente dos séculos XV-XVI.
quinta-feira, 16 de outubro de 2014 | By: Albicastelhano

Igreja de Santa Maria do Castelo

A Igreja de Santa Maria do Castelo nos anos 90,
quando ainda a respeitavam 
 coisa que agora não têm por ela
quarta-feira, 15 de outubro de 2014 | By: Albicastelhano

EVIDÊNCIAS DE ÉPOCA MODERNA NO CASTELO DE CASTELO BRANCO |||

3. ESPÓLIO

Apesar da presença de espólio de outras épocas, em
particular do período medieval, foram recuperados essencialmente
materiais de cronologia moderna (séculos
XV-XVIII).
Visto que durante os trabalhos arqueológicos de
1979/84 não foi feito qualquer registo estratigráico dos
materiais encontrados e que os recuperados em 2000
resultam de uma recolha após o desaterro do local, foi
necessário recorrer a paralelos formais para apurar as
suas cronologias. Não se pretende contudo fazer aqui
referência exaustiva e pormenorizada daqueles, mas
apenas dar a conhecer as formas e objectos mais relevantes
identiicados dentro da cronologia em análise
Deve ainda ser referido que na intervenção de 1979/84


foram crivadas as terras retiradas, embora não tenham
sido recolhidos quaisquer fragmentos de parede
em cerâmica fosca que não apresentassem decorações.
Uma vez que grande parte das cerâmicas vidradas
e esmaltadas foram então consideradas como
produções “recentes” e “sem interesse arqueológico”,
recuperou-se um conjunto muito diminuto deste tipo
de materiais.


3.1 Cerâmica
Em relação à cerâmica fosca, no que diz respeito à
loiça de cozinha, as panelas são a forma mais frequente.
Visto que não subsiste nenhum exemplar com
o peril completo, apenas é possível diferenciar tipologias
através dos bordos: sub-triangulares, sub-rectangulares
e semi-circulares. Com excepção do primeiro
caso, que será um pouco mais antigo, estes bordos são
datáveis dos séculos XV-XVI.
Em menor quantidade, dentro daquela cronologia,
foram recolhidos tachos e frigideiras, que podem apresentar
decoração incisa, no exterior, abaixo do bordo.
Foi recuperada uma grande diversidade de testos e tampas,
mostrando alguns deles, queimaduras sobre o bordo,
o que evidencia a sua utilização ao lume sobre tachos
ou panelas. Outros terão sido usados eventualmente
em potes ou qualquer outro contentor que fosse necessário
tapar para preservar o seu conteúdo. São comuns
os testos com bordo espessado exteriormente
e com pitorra, normalmente associados a contextos
quinhentistas, embora a sua utilização se mantenha ao
longo de várias centúrias. Surgem igualmente outras
formas de tampa que deverão ser mais tardias.
Em relação às loiças de armazenamento e/ou transporte,
ao contrário do que sucedia na época medieval, não surgem
quaisquer talhas. Tal facto pode icar a dever-se à
construção do Celeiro da Ordem de Cristo, em meados
do século XV, que terá passado a ser o local de armazenamento
por excelência, sendo por isso os potes, os contentores
de sólidos mais usuais na alcáçova albicastrense.
Como contentores de líquidos, são tão frequentes as
bilhas como os cântaros, que assumem formas comuns
noutros locais em níveis dos séculos XV-XVI.
Na loiça de mesa veriica-se, ao longo do século XV,
uma tendência para a individualização do uso das
peças como medida proilática, evidenciada acima de
tudo pela diminuição do diâmetro das mesmas. Esta
situação é visível tanto nas taças como nos pratos,
normalmente brunidos no interior. Outra peça que se
vulgariza nesta época são os púcaros de beber, em
cerâmica ina, que nos séculos XVI-XVII se apresentam,
na grande maioria dos casos, decorados em relevo.
Estas peças em cerâmica fosca foram produzidas com
pastas de barros vermelhos, que após cozeduras maioritariamente
oxidantes adquiriram tons entre o laranja e o
castanho, passando pelo vermelho. São pastas bastante
homogéneas, com elementos não plásticos de grão ino
a médio, normalmente biotite, moscovite, feldspato,
quartzo hialino e leitoso, sendo menos frequentes a hematite,
a calcite, o calcário, nódulos de barro e outros
tipos de quartzo.
Embora muito diminuto, dentro das loiças de mesa destaca-
se o conjunto de peças esmaltadas a branco estanhífero,
por vezes decoradas a azul de cobalto ou combinações
desse com preto ou roxo de manganês. Algumas
dessas peças são relexo do comércio transfronteiriço,
como é o caso dos pratos com bandas concêntricas
a azul ou intercaladas a roxo, típicos das produções sevilhanas
e valencianas dos séculos XV e XVI. Do mesmo
período e proveniência poderão ser algumas das peças
esmaltadas a branco, sem qualquer decoração.
No inal do século XVI, mas principalmente durante o
século XVII, surgem as peças de faiança portuguesa,
onde são frequentes elementos decorativos como as
espirais, os aranhões e as contas, combinando ou não
os óxidos já referidos.
Dentro do conjunto da cerâmica vidrada, praticamente
inexistente, destaca-se um bordo de alguidar vidrado
a verde plumbífero. É uma forma comum desde os
séculos XV-XVI praticamente até à actualidade.
Constituído apenas por meros fragmentos, os vestígios
de cerâmica de revestimento incluem um azulejo
tipo hispano-árabe, de provável produção sevilhana,
que poderá datar do século XVI. Mais tardios serão
os vários restos de pelo menos um painel de azulejos
esmaltados a branco e decorados a azul de cobalto e
amarelo de antimónio, que corresponde ao padrão
P-452, datável do século XVII (Simões, 1971, p. 83).
Ao contrário da cerâmica fosca, esta cerâmica vidrada
e/ou esmaltada, incluindo a de revestimento, mostra
pastas normalmente de tons entre o bege e o rosa,
resultado da mistura de barro branco com pequenas
percentagens de barro vermelho, uma vez que o óxido
de ferro presente neste último dá maior resistência às
peças durante a sua cozedura. São pastas muito homogéneas
e depuradas, com elementos não plásticos
de grão ino a muito ino, nalguns casos quase imperceptíveis,
nomeadamente nas peças que se considera
serem importadas.





terça-feira, 14 de outubro de 2014 | By: Albicastelhano

EVIDÊNCIAS DE ÉPOCA MODERNA NO CASTELO DE CASTELO BRANCO ||


2. TRABALHOS ARQUEOLÓGICOS1
(1. Cf. Castelo de Castelo Branco – Processo n.º 263 do Arquivo de Arqueologia
Portuguesa – IGESPAR.)

A exposição de diversos vestígios arqueológicos, devido
a um aluimento de terras provocado por um temporal,
levou a que em 1979 se tenham organizado escavações
no adro da Igreja de Santa Maria do Castelo, que se prolongaram
ao longo dos verões seguintes até 1984. Inicialmente
limitados àquele local, os trabalhos acabaram

por se alargar a toda a área sul e sudoeste da igreja.
Embora no local do aluimento (Q. 118) os materiais se
encontrassem muito misturados e estratigraicamente
descontextualizados, no resto da estação a situação
era diferente, se bem que não tenha sido feito o registo
preciso da estratigraia identiicada.
Ao longo da fachada sudeste foi colocada à vista a necrópole
do templo, na qual as inumações se encontravam
muito daniicadas não só pela presença de árvores
no local, mas também devido a uma terraplanagem
efectuada aquando da construção da estrada no local.
Atravessando a necrópole, paralela à fachada da igreja
e com uma ligação à sua porta lateral, foi identiicada
uma calçada de pedra miúda, que foi então considerada
recente quando comparada com a existente no
restante centro histórico.
Em frente à fachada principal da igreja foram colocados
à vista alguns muros cuja função não foi possível
apurar, mas que poderão corresponder às fundações
das anteriores estruturas associadas àquele templo.
Um pouco mais para oeste foi identiicado outro muro,
sensivelmente paralelo à fachada principal, que poderá
ter feito parte da muralha da alcáçova. No jardim a sul,
em três sondagens de diagnóstico, foram detectados
os negativos de estruturas similares a este último muro
e que poderão corresponder igualmente aos alicerces
de outras. Por outro lado, no corte de uma dessas
sondagens foram identiicados cinco estratos, possivelmente
em resultado de diversas terraplanagens
ao longo dos séculos.
No local do aluimento os materiais foram encontrados
misturados, num contexto muito revolvido. Com
o objectivo de perceber o que o provocara e ao mesmo
tempo o que existiria no local, os trabalhos concentraram-
se aqui em todas as campanhas, apesar de
terem ocorrido ao mesmo tempo nas outras áreas. Ao
contrário do que sucedia na restante estação, em que
o aloramento rochoso se encontrava a cerca de 1,20 m
de profundidade, aqui estava cortado em ângulo recto,
nos estratos compactados de terras e no aloramento.
Esta situação mantém-se inalterada praticamente até
aos 10 m, profundidade a que os trabalhos foram suspensos,
sem que se tenha chegado a qualquer conclusão.
Os materiais mais frágeis foram tratados no Instituto
José de Figueiredo e no laboratório do Museu Monográico
de Conímbriga. Concluído o trabalho de laboratório,
o espólio foi depositado no Museu Francisco Tavares
Proença Júnior, integrando as suas colecções. Foram
publicados alguns resultados preliminares nos anos subsequentes
e mais recentemente foram apresentadas as
primeiras conclusões desta intervenção (Ribeiro, 1984,
p. 57-59; 1985, p. 63-64; 1987, p. 277-281; Ribeiro e Azevedo, 2001, p. 15-47)2.

Aquando da construção de um depósito de água, por
parte da edilidade, no perímetro da alcáçova, foi identiicado
o embasamento de um muro associado a um
derrube, que foi considerado como podendo corresponder
à muralha ou à barbacã que a precedia. No corte
exposto eram visíveis cinco estratos, eventualmente
resultado de várias terraplanagens levadas a cabo na
área. O espólio, recolhido de forma parcial, visto que os
trabalhos de arqueologia tiveram lugar apenas após o desaterro,
foi interpretado como resultado de escorrimentos
da área da necrópole (Salvado e Moreira, 2006, p. 213).

2. Em 2008 foram apresentados publicamente os primeiros resultados
dos trabalhos arqueológicos decorridos entre 1979/1984 na alcáçova
albicastrense, no âmbito do Congresso Internacional de Arqueologia
– Cem Anos de Investigação Arqueológica no Interior Centro, cujas actas
foram publicadas recentemente (Ribeiro, 2010, p. 299-307).