terça-feira, 14 de outubro de 2014 | By: Albicastelhano

EVIDÊNCIAS DE ÉPOCA MODERNA NO CASTELO DE CASTELO BRANCO ||


2. TRABALHOS ARQUEOLÓGICOS1
(1. Cf. Castelo de Castelo Branco – Processo n.º 263 do Arquivo de Arqueologia
Portuguesa – IGESPAR.)

A exposição de diversos vestígios arqueológicos, devido
a um aluimento de terras provocado por um temporal,
levou a que em 1979 se tenham organizado escavações
no adro da Igreja de Santa Maria do Castelo, que se prolongaram
ao longo dos verões seguintes até 1984. Inicialmente
limitados àquele local, os trabalhos acabaram

por se alargar a toda a área sul e sudoeste da igreja.
Embora no local do aluimento (Q. 118) os materiais se
encontrassem muito misturados e estratigraicamente
descontextualizados, no resto da estação a situação
era diferente, se bem que não tenha sido feito o registo
preciso da estratigraia identiicada.
Ao longo da fachada sudeste foi colocada à vista a necrópole
do templo, na qual as inumações se encontravam
muito daniicadas não só pela presença de árvores
no local, mas também devido a uma terraplanagem
efectuada aquando da construção da estrada no local.
Atravessando a necrópole, paralela à fachada da igreja
e com uma ligação à sua porta lateral, foi identiicada
uma calçada de pedra miúda, que foi então considerada
recente quando comparada com a existente no
restante centro histórico.
Em frente à fachada principal da igreja foram colocados
à vista alguns muros cuja função não foi possível
apurar, mas que poderão corresponder às fundações
das anteriores estruturas associadas àquele templo.
Um pouco mais para oeste foi identiicado outro muro,
sensivelmente paralelo à fachada principal, que poderá
ter feito parte da muralha da alcáçova. No jardim a sul,
em três sondagens de diagnóstico, foram detectados
os negativos de estruturas similares a este último muro
e que poderão corresponder igualmente aos alicerces
de outras. Por outro lado, no corte de uma dessas
sondagens foram identiicados cinco estratos, possivelmente
em resultado de diversas terraplanagens
ao longo dos séculos.
No local do aluimento os materiais foram encontrados
misturados, num contexto muito revolvido. Com
o objectivo de perceber o que o provocara e ao mesmo
tempo o que existiria no local, os trabalhos concentraram-
se aqui em todas as campanhas, apesar de
terem ocorrido ao mesmo tempo nas outras áreas. Ao
contrário do que sucedia na restante estação, em que
o aloramento rochoso se encontrava a cerca de 1,20 m
de profundidade, aqui estava cortado em ângulo recto,
nos estratos compactados de terras e no aloramento.
Esta situação mantém-se inalterada praticamente até
aos 10 m, profundidade a que os trabalhos foram suspensos,
sem que se tenha chegado a qualquer conclusão.
Os materiais mais frágeis foram tratados no Instituto
José de Figueiredo e no laboratório do Museu Monográico
de Conímbriga. Concluído o trabalho de laboratório,
o espólio foi depositado no Museu Francisco Tavares
Proença Júnior, integrando as suas colecções. Foram
publicados alguns resultados preliminares nos anos subsequentes
e mais recentemente foram apresentadas as
primeiras conclusões desta intervenção (Ribeiro, 1984,
p. 57-59; 1985, p. 63-64; 1987, p. 277-281; Ribeiro e Azevedo, 2001, p. 15-47)2.

Aquando da construção de um depósito de água, por
parte da edilidade, no perímetro da alcáçova, foi identiicado
o embasamento de um muro associado a um
derrube, que foi considerado como podendo corresponder
à muralha ou à barbacã que a precedia. No corte
exposto eram visíveis cinco estratos, eventualmente
resultado de várias terraplanagens levadas a cabo na
área. O espólio, recolhido de forma parcial, visto que os
trabalhos de arqueologia tiveram lugar apenas após o desaterro,
foi interpretado como resultado de escorrimentos
da área da necrópole (Salvado e Moreira, 2006, p. 213).

2. Em 2008 foram apresentados publicamente os primeiros resultados
dos trabalhos arqueológicos decorridos entre 1979/1984 na alcáçova
albicastrense, no âmbito do Congresso Internacional de Arqueologia
– Cem Anos de Investigação Arqueológica no Interior Centro, cujas actas
foram publicadas recentemente (Ribeiro, 2010, p. 299-307).