terça-feira, 25 de novembro de 2014 | By: Albicastelhano

Castelo de Castelo Branco (1979–1984 e 2000): síntese dos trabalhos arqueológicos desenvolvidos e principais conclusões V

3.4. Numismática

Nos trabalhos arqueológicos decorridos na alcáçova albicastrense foram colectados 193
numismas, dos quais apenas não foi possível identificar 7 devido ao seu estado de conservação.
Trata‑se
essencialmente de exemplares da primeira e segunda dinastias portuguesas. Uma vez
que o valor da moeda correspondia ao valor do seu metal constituinte, algumas delas foram cortadas
em duas ou quatro partes, dando origem às chamadas mealhas. Muitos dos exemplares também
se encontram cerceados. Apesar de não ter sido registado quais, alguns apareceram associados aos
enterramentos, tendo preservado, devido à sua oxidação, restos dos tecidos que constituiriam a
roupa ou o sudário dos inumados.
Da primeira dinastia foram identificados dinheiros de D. Sancho I (1185–1211), D. Sancho II
(1223–1248), D. Afonso III (1248–1279) e D. Fernando (1367–1383). Não foi possível caracterizar
com exactidão um exemplar que poderá ser de D. Dinis (1279–1325) ou D. Afonso IV (1325–1357)13.
Da segunda dinastia foram recolhidos espécimes monetários de todos os reinados, destacando‑se
a diversidade de tipos no reinado de D. João I (1385–1433), ½ vintém de prata de D. Manuel I
(1495–1521) e um grande conjunto de ceitis, na maioria de D. Afonso V (1438–1481) e D. João III
(1521–1557)14.
Uma vez que o valor monetário dos numismas portugueses não era muito diferente do de
outros exemplares castelhanos, graças à proximidade com a fronteira e ao comércio que através dela
teria lugar, foi igualmente recolhido um dinero de Afonso X (1252–1284) e duas blanca del rombo,
tipo monetário emitido nos últimos anos do reinado de Henrique IV (1454–1474)15.
Foi recuperado um pequeno cobre de Constantino II (317–337) datado do século IV e um
jeton, possivelmente dos séculos XVII–XVIII, que mostra caligrafia árabe (Antunes, 2011, pp. 730–
–732).



3.5. Estelas funerárias

Recolheram‑se
dois tipos de estelas funerárias: as discoidais, que constituem a maioria, e as
rectangulares. As primeiras mostram quase sempre as duas faces decoradas, sendo recorrente a
cruz pátea (n.º 83) ou motivos radiais (dois exemplares em ambas as faces). Uma destas últimas
tem forma totalmente antropomórfica, mostrando os braços, lateralmente, na área do ombro
(n.º 84). Das outras foram recuperadas duas, decoradas com motivos cruciformes na parte superior.
São peças elaboradas em granito porfiroíde, de origem local. O talhe é muito rudimentar e o
desenho pouco cuidadoso, com excepção de uma das estelas rectangulares. Esta é produzida em
granito mais fino e demonstra um grande conhecimento de geometria por parte do seu autor
(n.º 85). Poderá ser mais recente que o restante conjunto.
3.6. Espólio arqueozoológico
Foram recuperados restos osteológicos de origem animal, em particular de fauna mamalógica.
Trata‑se
essencialmente de espécies domésticas como boi (Bos taurus), carneiro ou borrego
(Ovis aries) e porco (Sus). Deste último destaca‑se
um conjunto de caninos, os quais não foi possível
aferir se correspondem à espécie domesticada (Sus domesticus) ou à selvagem (Sus scropha). Foi
identificada também uma haste de veado (Cervus elaphus), que poderá resultar de uma simples
recolha, visto serem caducas, não sendo resultado óbvio de actividades cinegéticas (Antunes,
2011, pp. 732–736).