segunda-feira, 16 de março de 2015 | By: Albicastelhano

A ARQUITECTURA TAMBÉM É CULTURA

 Um texto que não é de minha autoria mas que concordo plenamente com esta senhora amiga do blog:

"No dia 11 de Novembro de 2014, o Vereador da Câmara Municipal de Castelo Branco, Fernando Raposo, anunciou em entrevista à Lusa, que a autarquia mantém a prioridade na cultura e entre outras coisas, vai também criar o Museu do Bordado de Castelo Branco nas instalações da antiga Biblioteca Municipal.
Sendo um Museu um edifício público, é necessário que este cumpra a regulamentação exigida a este tipo de edifícios (nomeadamente questões relacionadas com alturas mínimas dos espaços e eficiência térmica), que forneça as condições de acessibilidade necessárias a pessoas de mobilidade condicionada e para além disso, que seja dotado dos equipamentos indispensáveis para o bom funcionamento do programa que passará a albergar.
A situação poderia ser encarada com normalidade e algum entusiasmo, se o edifício em questão não fosse a Antiga Biblioteca de Castelo Branco - edifício localizado no coração do centro histórico da cidade e de elevado valor patrimonial.
Como sabemos, edifícios como este são difíceis e por vezes impossíveis de adaptar às exigências modernas. A recuperação deve ser feita como um verdadeiro trabalho de relojoaria, que pode e deve abdicar de questões programáticas, se com isso der primazia à preservação do edifício. Este trabalho leva naturalmente o seu tempo, um tempo diferente daquele que actualmente se impõe aos projectistas responsáveis pelas intervenções.
Castelo Branco não tem tido bons exemplos de intervenções deste género, ora veja-se o exemplo do edifício da Câmara Municipal e parque de estacionamento adjacente, de algumas das casas da Avenida Nuno Álvares, cuja descaracterização levou à sua destruição - como aquela onde actualmente está instalado o Posto de Turismo - ou de outros edifícios totalmente demolidos para dar lugar a outros novos e de qualidade arquitectónica duvidosa. Ou seja, não só não se tem construído património, como também se tem destruído algum daquele que por herança nos deixaram os nossos antepassados - assim é, contraditoriamente, apresentado.
A leitura destas e de outras intervenções deixam-nos reticentes em relação à intervenção que poderá vir a ser feita na Antiga Biblioteca Municipal. Como irá ser resolvido o problema das acessibilidades? Impondo elevadores ou plataformas elevatórias? E o problema da térmica? Através da substituição da caixilharia de madeira existente, por caixilharia de pvc, ou até madeira mas com vidro duplo tentando imitar a original e instalando sistemas de ar-condicionado invasivos? E o interior? Como se conseguirão pés-direitos regulamentares e espaços iluminados artificialmente como um Museu exige? Edifícios como este não suportam intervenções irreversíveis como estas.
Talvez o Museu do Bordado exigisse um edifício novo, que tornasse nobre outra zona da cidade e que pudesse responder com naturalidade às suas exigências. E em homenagem ao Bordado, que fosse pensado com a responsabilidade de quem constrói património. Pois o edifício objecto desta crítica vale por si só, pela sua história, e "só" por isso interessará a quem o visite - tal como ele é. Urge humildade e ponderação ou o seu carácter desaparecerá. E assim sendo, a cidade nunca será a "referência cultural" que tanto se pretende que seja.
Teríamos com isso, em vez de uma, três oportunidades para dignificar e enriquecer a cidade: A Antiga Biblioteca Municipal e toda a história que este edifício acarreta; O Bordado de Castelo Branco; e o Museu com o seu nome. Porque A Arquitectura também é Cultura."
Assinado: Anas