terça-feira, 15 de dezembro de 2009 | By: Albicastelhano

Escavações |||

 ESCAVAÇÕES NO CASTELO DE CASTELO BRANCO
Aqui há balas de canhão
A construção de um novo depósito de águia na cidade de Castelo Branco foi motivo da descoberta de objectos antigos, como cerâmica, ossos e vidros, de onde se partiu para um estudo arqueológico mais aprofundado, através do qual já forma encontradas 17 balas de canhão, em ferro, e outros objectos metálicos.

Os trabalhos arqueológicos, que já atrasaram as obras em cerca de um mês e meio, começaram no final de Maio e agora estão a ser tiradas as primeiras conclusões. O terreno foi escavado até ao substrato rochoso e procedeu-se à quadriculagem do terreno, ou seja, à divisão do terreno em quadrículas de dois metros quadrados, num total de 12 metros por quatro.

À medida que a escavação decorreu foram aparecendo outros objectos, como um anel de criança em vidro, vários objectos metálicos e várias balas de canhão, quase todas na mesma quadrícula, bem como cavilhas e pregos em ferro. Encontraram-se ainda pedras em granito, talhadas, o que indicia a antiga muralha, dado que a zona é de xisto.

Pelo entulho encontrado, Pedro Salvado, professor da Escola Superior de Artes, e Sílvia Moreira, arqueóloga, que dirigem os trabalhos, consideram que o local já tinha sido remexido aquando da colocação as manilhas do esgoto. Mas só agora se notou uma preocupação com o achado, que colocou a descoberto alguma cerâmica do século XVIII.
Daí que, para Pedro Salvado, “esta é a primeira vez em que se nota uma atitude firme por parte da autarquia na defesa dos valores histórico-patrimoniais. Houve um aumento da sensibilidade da Câmara para este facto, um facto registado num espaço onde nasceu a comunidade albicastrense”.
OCULTO. Aquele docente considera ainda que “muitos albicastrenses desconhecem que a actual silhueta castelã resultou apenas de um incrível pastiche arquitectónico concebido nos anos 40 pelos monumentos nacionais”. Por isso, afirma: “Não estou muito longe da verdade ao afirmar que o verdadeiro castelo de Castelo Branco ainda se encontra oculto”.

Para isso, será necessário que os trabalhos arqueológicos continuem. Pelo menos é o que se poderá dizer quando se afirma que “arqueologicamente falando, a ocupação humana no morro genético de Castelo Branco remontará à idade do bronze (século X A.C.), constituindo a altitude um grande valor estratégico. Infelizmente, ainda não há estruturas datadas desse período”.

Até agora, as certezas remontam apenas à presença romana. “Mas também para este período há um total desconhecimento actual quanto à existência de estruturas”. Mais fácil será seguir a história do castelo a partir da época medieval, pois existem outras fontes documentais. Mas ainda se impõe perguntar: Se documental-mente se sabe que o castelo foi uma fundação templária, onde estão essas primitivas fundações?”.

Enquanto a pergunta permanece sem resposta, vai sendo avaliado o trabalho realizado na presente escavação. Para já tudo aponta para que se trate de “uma estrutura defensiva onde se encontraram 17 balas de canhão, o que não é muito comum. Pode ser um sector da antiga estrutura acastelada datável do último grande impacto bélico que o castelo de Castelo Branco sofreu no século XVIII”.

As peças encontradas seguirão agora para o Museu, embora um dos alunos da Escola de Artes que tem auxiliado na escavação (onde a colaboração dos trabalhadores dos Serviços Municipalizados foi importante) defenda a realização de uma exposição no Hotel Colina do Castelo.

A avançar essa ideia, a exposição poderá ser mais alargada, pois, a intervenção agora realizada “é uma compensação arqueológica a uma obra de construção civil e entrou também em contacto com o complexo do cemitério do Adro da Igreja de Santa Maria, escavado na década de 80 pelo Dr. João Ribeiro. Uma pessoa a quem se deve, dentro da história do nosso castelo, o retomar do interesse e a preservação e estudo das nossas origens”. Falta agora saber se esse interesse vai ser retomado de novo.




Fonte do Texto:
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http://www.ensino.eu/2000/jun2000/destaque.html