É com muita estranheza que detectamos que continuam as originalidades regionais nos concursos, ditos públicos, para as autarquias.
Desta feita é, ou melhor foi, na Câmara Municipal de Castelo Branco,
instituição cujo quadro técnico será, em breve, reforçado com um
elemento na área da História. Até aqui tudo bem. É sempre bom verificar
que os responsáveis pela gestão dos nossos municípios se apercebem das
lacunas e das pobrezas técnicas e científicas dos nossos quadros de
pessoal autárquico. Não sabemos se, no caso da Câmara Municipal de
Castelo Branco, terá sido assim. Talvez. Realmente se atendermos às
áreas profissionais dos elementos do júri deste concurso onde há um
jurista, um gestor, uma assistente social, um engenheiro e um chefe de
divisão que sabe muito de finanças e de patrimónios municipais
facilmente se regista a inexistência de qualquer quadro superior da área
de História. O concurso destina-se a «um estagiário com vista ao
provimento de um lugar de técnico de 2º classe» sendo requisitos
especiais «indivíduos habilitados com curso superior que não confira o
grau de licenciatura, em área de formação adequada ao contudo funcional
do lugar a prover (Técnico de História).» Lemos bem? Sim: TÉCNICO DE
HISTÓRIA. Estamos perante uma solicitação muito peculiar pretendendo-se –
repetimos- alguém com «um curso superior que não configura o grau de
licenciatura» para trabalhar como Técnico de História. Engraçado,
não sabíamos que agora havia cursos superiores que não licenciaturas,
de História. O que se aprende com a leitura destes avisos! Em que Universidade
ou Politécnico é que se atribui essa nova ‘especialização”? Por outro
lado também não deixará de ser curioso o seguinte facto: a classificação
- Técnico de História - profissional - não existe ou está algures escondida. Consultem a listagem das carreiras
técnicas. Há lá técnicos de tudo e de mais alguma coisa, de História é
que não há. Logo este concurso é para uma coisa que não está legislado e
não existe. É uma ilusão funcional. Ou não será assim?
Mas
há mais neste curioso e tão oportuno concurso para um técnico de
História de 2ª classe não licenciado. Por exemplo, o que se pede para a
prova oral de conhecimentos específicos a serem avaliados pelo júri
onde, como vimos, não há ninguém ligado a estes assuntos da História.
Referem-se na bibliografia nada mais, nada menos do que 25 títulos, mais
a 1º série da Revista “Estudos de Castelo Branco” (são centenas de
títulos) e mais umas quantas coisitas. Enfim… Dá só para aí (e são
contas pelo alto) umas dezenas de milhar de páginas. Que desafio digno
de Hércules historiográfico! E se algum candidato resolver levar os
livros todos para o exame oral? Não chega uma estante e necessitará da
ajuda da senhora recepcionista para transportar o saber livresco para a
prova oral. Quem será o candidato ou a candidata que vai ler todas estas
obras decerto já muito lidas, relidas e sabidas por todos os elementos
do Júri. A listagem abarca produções de 1853 até 2004 dentro de um
discutível chapéu de obras de…história. Já estamos a imaginar o Júri
dirigindo-se para o candidato: “ Diga lá, o que é que há que diga
respeito à cidade de Castelo Branco nos 3 volumes do “Le Portugal
Mediterraneen à la fin de l’Ancien Regime”de Albert Silbert que vem
referido na bibliografia. Resposta: Senhores elementos do Júri, há
volumes em que nada”. E não é que é mesmo assim … Deve ter sido um lapso
erudito pelo cansaço de tão nobre tarefa? Mas há mais. Entre outras e
só para amostra, as seguintes: o autor da “Monografia de Castello
Branco” nunca a assinou com o nome de António Augusto Roxo ou ainda a
magnifica obra A “Beira Baixa na Expansão Ultramarina” foi trabalho
efectuado não só pelo meu grande amigo Eng. Manuel da Silva Castelo
Branco como, e principalmente, pelo meu grande e velho Amigo Professor
Doutor Candeias da Silva que não consta da relação.
Mas
esta contribuição para a bibliografia da cidade é notável. Depois das
bibliografias do Dr. Ernesto Pinto Lobo (que foi durante muitos anos, e
entre outros cargos, o responsável pela Cultura da Câmara Municipal de
Castelo Branco) e do nosso Amigo Manuel Leitão (que é funcionário da
Câmara e fundador do desactivado Centro de Estudos Epigráficos da Beira)
que faremos referência mais pormenorizada em próximos posts, esta lista
bibliográfica é um marco da região. Foi um investimento pago com os
nossos impostos e editado no Diário da República. Assim Portugal ficou a
saber da pujança historiográfica da nossa querida terra. Mas há uma
coisa que nos intriga. Como é que o Júri justifica os autores e os
investigadores ausentes desta listagem ‘”oficial”. A ausência (para não
dizermos outra coisa) atingiu o cúmulo de até mesmo não contemplar
edições apoiadas pela própria autarquia. Quem elaborou essa listagem
desconhece esses autores por ignorância, por censura nominal, por
critério científico, por indicações superiores? Ordens do ou Júri? Ou
nada disto! Pois é, pois é. Sabem, meus caros, às vezes não basta copiar
por copiar. Quem «montou» - atenção a estas coisas Sr. Presidente
Joaquim Morão - este concurso para além de inventar uma classificação
funcional, resolveu armar-se , junto dos seus pares em… sábio
historiador. E vai daí toca a copiar ipsis verbis a bibliografia (erros
incluídos) contida numa editada pelo programa Polis. Vale a pena
cotejar. Mas tal não bastava e vai daí zuca: tomem lá mais uns quantos
títulos que isto de mais linha ou menos linha no DR não conta...
Presunção e água benta cada qual toma a que quer, mas não exageremos…
Lembram-se
do concurso para a Câmara da Idanha que há tempos aqui referimos e que
deu origem a uma troca de galhardetes - alguns incríveis - entre
alguns candidatos e candidatas? Pois sabemos que o mesmo foi impugnado.
È verdade. Realmente «Quem não sente não é filho de boa gente. E se
alguém se sentiu ultrapassado ou injustiçado fez muito bem em reagir. No
caso do concurso da Câmara de Castelo Branco é daquelas coisas muito
mais esquisitas. Esperemos, neste caso, que os senhores candidatos e
candidatas (os previstos, os anunciados e os de última hora)
principalmente aquelas senhoras e senhores mais
moralistas e os que andam por aí a apregoar aos sete ventos a
transparência dos processos, a cidadania sã e outras coisas tais, não se
calem. Pelo menos nem que seja a bem da História. Aguardemos. Quanto ao
resto, apenas dizer a quem ficar, se ninguém impugnar este concurso,
que não há História com h (pequenino) …. Aos outros uma certeza - das
vossas “estórias” (com concurso ou sem concurso, com ganhos ou com
perdas) não há-de rezar, nunca mas mesmo nunca, a História.
Este post dedico-o ao Granda Ego
Fonte do texto:Concurso
8 comentários:
Absolutamente épico!
Aposto que sei mais de CB que o próximo infeliz que ocupar esse cargo. xD
Granda abraço! ;)
Qual é a relevância deste post?
Uma homenagem?
O que aqui está relatado passou-se há pelo menos 3 anos e foi publicado noutro local nessa mesma altura. Para a próxima não se esqueça de fazer a referência...
P.S. É verdade, o concurso foi anulado...
Pois é épico o que se fez, a marosca deste concurso
A relevância deste post é mostrar como lá foi parar esta Arqueóloga que tanto faz pela Arqueologia, uma homenagem porque foi o sr Ego falou deste concurso meio caricato, em relação á dita referência se o senhor(a) ler está escrito fonte do texto portanto não percebi o que quis dizer com:"Para a próxima não se esqueça de fazer a referência..."
Em relação ao dito concurso ser anulado você sabe mais do que eu
Já foi ocupado á 3 anos Kenny e mal ocupado
mas desde quando é que isto tem algo haver com a arqueóloga da câmara? isto passou-se muito depois de ela estar lá...
Passou-se? LOL se você o diz
Mais uma página negra da gestao deste executivo nivel da Historia e do Patrimonio Cultural dessa cidade. Era um escandalo. A coisa foi anulada. Só podia. Contudo, mais tarde, o lugar foi ocupado pela mesma pessoa já escolhida .Entrou por outra porta mais campestre e aldeã.
A tal dita arqueologa nao tem nada a ver com isto .
Enviar um comentário